Vênus, essa pretinha coloriu a minha vida Há muito, queria adotar um vira-lata, mas quanta insegurança!. Sou voluntária do Patinhas há um ano. Certa vez, pensei em adotar a Livina: hesitei tanto que ela ganhou um lar. Depois, continuei como voluntária até que no mutirão de janeiro vi a Vênus que há três dias havia sido resgatada de uma situação horrível, assustada, olhando pra parede e sem andar: só querendo colo. A moça que estava com ela, me emprestava a ?pretinha? de tempos em tempos e, de repente, ela se sentou no meu colo e ficou. No mutirão de fevereiro, fiquei com ela e já aceitava a coleira, apesar de não obedecer nada. Vênus não preenchia minhas necessidades quanto a tamanho, já que não tenho carro há dois anos e viajo muito. Ônibus intermunicipais só aceitam até cinco quilos. Táxis em São Paulo são difíceis de aceitar cachorros de porte médio; em Santos, em muitos lugares, cachorros têm de ficar no colo e eu não a aguento por muito tempo. Tinha problemas familiares e inseguranças mil sempre discutidas com a Juliana e a Rosana, minhas queridas orientadoras incansáveis. Até hoje, elas me dão apoio e orientação. Dia 16 de março, fui visitá-la e tentei enrolar mais um pouco, mas todos os empecilhos que eu colocava eram derrubados pelos coordenadores, principalmente a Ju. Alê nos trouxe pra casa. Resolvi manter o nome que significa ?amor, alegria?. Quantos nomes esse serzinho já deve ter tido? Às vezes, as pessoas pensam ser nome de macho, mas ela é muito feminina e dengosa! Vênus não sabe o que é rotina porque eu não a tenho: um dia em Santos, outro em São Paulo, um dia saindo à beça: shows ao ar livre com vários tipos de músicas, cachorródromos, até cemitério, clínica de idosos ? alegrou os velhinhos e minha mãe, uma semana antes de ela descansar-, parques, visitas, seguiu bem atrás na procissão de Corpus Christi; outros, quietinhas em casa e, muitas vezes, Vênus tem de passar muitas horas só. Garanto que é feliz e eu também. Ela é a minha luz e, num momento em que perdi um ser muito especial, minha mãe, essa cachorrinha veio ocupar meu tempo e aliviar minha tristeza. Casa limpa! Acho que não mais: é pelo por tudo, fora as calopsitas que agora ficam lado a lado com Vênus após a adaptação. Em Santos, na reforma, escolhi um lindo piso branco. Imagina agora o contraste! O serzinho é caro também, estou desempregada, com trabalhos, aulas s e revisões esporádicos, mas ela merece cada investimento porque alegria, me dá o tempo todo. Quando a deixo só, sinto muitas saudades. Faz traquinagens, não gosta muito do litoral, AINDA, mas vamos que vamos. Disparou no cemitério atrás do espanador do limpador de túmulos e fez com que eu e minha irmã, uma ?lady?, saíssemos correndo pelos túmulos; arrebentou o peitoral e invadiu o supermercado lotado, feito um raio. Tudo muito divertido. Torço agora pelo Saturno, irmão da Vênus. Que ele logo arrume um lar! Continuo frequentando os mutirões, sinto-me útil e nesses dias, ela fica em casa. Se ela for, não posso me dedicar a seus amigos ainda sem lar. Quanto volto, levo pra Vênus, em meu corpo , o perfume e a saudade de seus aumigos e ela aspira muito essa lembrança. Enfim, essa pretinha colore a minha vida.